segunda-feira, 27 de junho de 2011

Estávamos em Janeiro. Aquelas luzes vermelhas difusas que se reflectiam nos espelhos e davam à cama uma tonalidade rosada inundaram-lhes a face e o corpo quando eles transpuseram pé ante pé a porta para o interior do quarto, nervosos por ser a primeira vez que se encontravam numa situação daquelas. Amplo, acolhedor e impecavelmente limpo o quarto reunia as condições ideais para albergar aqueles dois seres que apaixonadamente procuravam nele o refúgio seguro para o seu amor secreto.
Um beijo profundo selou aquela entrada como quem entra num mundo que é só seu, um mundo constituído apenas por quatro paredes e que para além das quais nada mais existe e nada mais interessa. O mundo parou para eles naquele momento. Refeitos da surpresa da chegada percorreram o pequeno quarto observando tudo com minúcia ainda mal acreditando que tinham à sua disposição por algumas horas aquele local paradisíaco.
Com os nervos à flor da pele os dois abandonaram-se à paixão que os unia e a pouco e pouco os seus corpos uniram-se num frenesim louco e ofegante apenas abafado pelos sussurros doces ao ouvido. Pelo canto do olho um e outro observavam as suas imagens suadas reflectidas nos espelhos provocando-lhes ainda mais arrepios de prazer. As mãos dele percorriam o corpo lindo e bronzeado dela provocando a cada toque uma sensação recíproca de prazer intenso. Era a primeira vez que aqueles corpos se uniam, e apesar de um natural início cauteloso de quem não se conhece, o desejo e a paixão fizeram o resto....
A cama revolta, os corpos em sintonia ritmada em crescendo de calor e cansaço ofereciam um quadro belo de castanhos e vermelhos do que parecia ser uma amálgama de corpos e não, tão somente, dois seres tão intensamente apaixonados que sofriam naquele momento os espasmos intensos de um orgasmo simultâneo.
Aquela face, aqueles cabelos, aqueles lábios, aquela pele necessitavam mais do que nunca de uma carícia mais suave, agora que os corpos estavam calmos, porque aquele era o verdadeiro momento da paixão e do amor. Aquele era o momento em que as duas almas se fundiam ao toque suave dos lábios, ao passear dos dedos por entre os cabelos e ao passar das mãos pela pele morena. Só o silêncio, apenas quebrado pelo respirar em uníssono, era testemunha fiel do que se estava a passar ali. Ela colocou a cabeça no peito dele e adormeceu.
Ele sem sono olhava com ternura para o rosto adormecido dela beijava-o suavemente de vez em quando e acariciava-lhe os longos cabelos castanhos. Naquela noite, ao repousarem nos braços um do outro após várias horas de um prazer sublime, tiveram a sensação estranha e deliciosa de que já se conheciam há muitos anos mas ao mesmo tempo uma certa nostalgia por isso não ter acontecido. Tiveram naquela altura a noção exacta daquilo que poderiam ter vivido juntos, dos sonhos não sonhados dos prazeres não vividos, contudo, era mais forte a sensação de que o futuro ainda lhes ofereceria inúmeras oportunidades para recuperar o tempo perdido, vivendo o seu grande amor com a intensidade que os caracterizava. A partir daquele momento nada seria como dantes.
Estava escrito......
São horas. Despediram-se daquele quarto com carinho como quem se despede temporariamente de um ente querido, e passaram a chamar-lhe com ternura “a nossa casa”.
No caminho de regresso a Paris pela auto-estrada A19, a lua cheia estava a espera deles como que para lhes iluminar o caminho e dispensar os faróis do carro. Enorme, branca e linda, ali estava ela altiva como uma sentinela, pronta a observar todos os gestos que os dois faziam, mas ao mesmo tempo, parecia ter um ar cândido e protector daquele amor que nos dois despontava. As suas mãos nunca mais se separaram desde que saíram “da sua casa”, os seus olhares cruzavam-se com frequência durante a viagem, e reviviam nos olhos um do outro tudo aquilo que tão intensamente tinham sentido nas últimas horas. Não era preciso trocar palavras porque os olhos falavam por eles. Sim os olhos falam, e os deles então, eram uns tagarelas! A paixão estava definitivamente instalada naquela viagem de trinta e poucos quilómetros que lhes pareceu demasiado rápida, tal era a vontade de não se separarem nunca mais.
Ele deixou-a à porta de casa com a angústia estampada no rosto de quem não se quer separar do seu tesouro. Ela beijou-o ternamente e tentaram os dois, desesperadamente, reprimir uma lágrima ao canto do olho.